Para Lá da Montanha – IV

pradaria florida e montanhaImage par adege de Pixabay

     Durante a caminhada, para a Vera supreendentemente fácil, ela apercebeu-se de que nem sequer tinha utilizado os seus materiais peculiares; pois é, nem sequer os lápis coloridos.

    A Vera sentiu-se ainda mais desapontada com ela mesma e sentiu que o seu plano, ao início tão bem estruturado, era um falhanço.

    E continuou a descer e a descer, a ver-se a si mesma, como se fosse no passado, a correr cheia de esperança de alcançar o seu objetivo.

    Mal ela sabia que depois de ter subido tudo aquilo, ia voltar a descer, mas não com entusiasmo de dizer aos amigos, o que estava para lá da Montanha, mas sim com vergonha de dizer-lhes que não conseguira. 

   A mãe da Vera conseguia vê-la a regressar, à distância, com muita preocupação. A Vera conseguia ver a mãe á distância, com esperança que ela não estivesse preocupada. 

   Ai, meu Deus, como é que estas duas se vão entender?

   Vera e sua mãe estavam cada vez mais perto.

  E chega o momento de as duas se encontrarem. Talvez para a Vera a emoção era um pouco diferente da que tinha sentido quando tinha colocado o pé  direito na rocha, na primeira vez.

(Continua) – CC9B

Para Lá da Montanha – III

pradaria florida e montanhaImage par adege de Pixabay

     A Vera apercebeu-se de que estava muito, muito alto, quando uma águia lhe passou ao lado e quase a derrubou, mas apareceu um cogumelo falante que a agarrou com as suas mãozinhas pegajosas. 

   Vera agradeceu-lhe, sem pensar duas vezes, e apercebeu-se de que ainda tinha o líquido pegajoso nas mãos.

   Porém, sem reparar no que estava a fazer, quando se foi agarrar a outra rocha para subir, escorregou, pela gosma do cogumelo nas suas mãos, e caiu, vendo o seu destino mais e mais pequenino e com o vento a passar-lhe pelos cabelos.

   Como uma pena caiu, curiosamente, com leveza, ao lado do sopé da montanha. Quando acordou do seu longo, mas não grave desmaio, o seu primeiro sentimento foi de raiva, por ter confiado naquele cogumelo pequenino mas traiçoeiro.

   (Ai, coitadinho do cogumelo, nem tem culpa, e de certeza que não o fez por mal, acho que a Vera está a ser um pouquinho injusta.)

    Sabia que não conseguia subir a montanha outra vez; então fez a escolha mais fácil: a de voltar e deixar para trás o seu sonho de descobrir o que está para lá da Montanha.

   E lá foi ela, de volta para casa, com a sua mochila e o seu lanchinho saboroso, à espera de um castigo e de um abraço de sua mãe.

(Continua) – CC9B

Para Lá da Montanha – II

pradaria florida e montanhaImage par adege de Pixabay

    Então, lá foi ela com a sua mochilinha e o seu lanchinho saboroso, cheia de vontade de desvendar os mistérios do que está para lá da montanha.

    Depois de uma longa caminhada, Vera chegou ao sopé da montanha; olhou para cima e a primeira coisa que pensou foi voltar para trás, mas também não o conseguiu fazer; então, ficou sentada no chão a tentar ganhar coragem de subir ou voltar.

     Com o medo do desconhecido, Vera ficou parada, a pensar que já não era aventureira  como as pessoas da Vila a chamavam, mas sim uma medricas.

    Foi nesse momento que apareceu a Lara, uma Fada; a Vera gritou de surpresa, pois não sabia que as fadas existiam. A Fadinha era tão pequenina e delicada que teve de chegar pertinho da Vera para falar com ela. Então, sussurrou-lhe ao ouvido: 

    – Não resistas, tu consegues, sobe!

   Sem saber muito bem o que estava a acontecer, e antes de analisar melhor este fenómeno único, a Fadinha desapareceu, deixando-a com aquela frase reflexiva.

   Mas sem pensar muito, com todas as suas forças, Vera pôs o pé direito na rocha e, com as pernas fininhas a tremer, subiu mais e mais, mas sem olhar para trás.

(Continua) – CC9B

Para Lá da Montanha – I

pradaria florida e montanhaImage par adege de Pixabay

        Era uma vez, numa planície quase infinita, tão verde como um tapete a cobri-la e sempre com um pozinho mágico a vaguear pelos delicados sopros de vento de verão, uma rapariga tão inocente como aquela planície, mas com sonhos ainda mais bonitos.

    A menina chamava-se Vera e trazia sempre uma florzinha da cor do céu, que contrastava com as suas bochechas rosadas e sardentas, para não falar dos seus lindos cabelos longos e ruivos.

    A Vera era uma menina muito curiosa e aventureira; um dos seus sonhos era escalar a maior montanha do mundo e desvendar os mitos e mistéiros que a rodeavam.

    Depois de uma longa sexta-feira, Vera saltitou, cantando uma uma melodia sonhadora, até ao quarto da mãe e pediu-lhe que lhe preparasse um lanchinho saboroso e que não fizesse perguntas.

     A mãe, achando que era mais uma das traquinices da Vera, aceitou, com um doce sorriso nos lábios.

     A Vera, com seu longo e estruturado plano na cabeça, foi ao seu quarto fazer uma malinha de coisas de que poderia precisar, como: uma corda, uma tesoura, fita-cola e lápis coloridos.

    Pois, não sei bem onde ela vai usar esses materiais todos, mas mas ela parece muito segura do seu plano.

(Continua) – CC9B 

Como os Meus Pais se Conheceram

casalImagem de Alexas_Fotos por Pixabay 

     Tudo começou quando eles nasceram na mesma maternidade; as suas mães, como tinham uma gravidez de risco, ficaram em repouso no mesmo quarto de hospital e, com isso, tornaram-se grandes amigas, por terem conversado tanto sobre como iriam educar os seus filhos – e já posso dizer que nada correu como elas planeavam – sem ofensa, avó.

     Nasceram os dois no mesmo dia e no mesmo quarto de hospital, pequenino mas a transbordar de amor maternal.

     A mãe de meu pai, a minha avó, não resistiu e faleceu antes de ouvir o som do choro do seu filho. A minha outra avó, com o choque, desmaiou. Pegaram no meu pai e, rapidamente, com falta de informação, puseram-no na adoção.

     Quando a mãe da minha mãe acordou, sentiu como uma vertigem: tudo a andar á roda, mas manteve-se direita para perguntar á enfermeira, que dissesse o mais rápido possível onde estava o filho da sua amiga recém-falecida.

     A enfermeira, com o rosto fechado, respondeu baixinho e lentamente, que o filho da sua amiga, como não tinha mais Família, tinha sido levado para Adoção e que não havia mais nada que pudessem fazer.

     A minha avó, exausta, só queria relaxar, pois tinha acabado de ter uma filha e queira passar algum tempo com ela.

      Mas ela não desistiu e continuou a procurar o filho da sua querida e falecida amiga, durante anos.

       Enquanto isso, a minha Mãe foi crescendo e já tinha completado oito anos; mal ela sabia que, com dez anos iria conhecer o amor da sua vida, o meu Pai.

      Mas voltando à história: a minha Avó procurava em todos os orfanatos possíveis e o que ela mais ouvia era: “- Não sei do que está a falar!” ou “- “Aqui não está com certeza.” Mas ela não perdia a esperança e continuou, todas as semanas, durante dois anos, a fazer essas ligações.

      Até que um dia, recebeu uma chamada telefónica de uma Diretora de um orfanato no Norte de Portugal, a dizer que ali havia passado um menino nascido no mesmo dia e ano da minha Mãe e que tinha sido adotado por uma senhora chamada Ana Lúcia.

      A minha Avó ficou com um sorriso de uma orelha à outra e, juntamente com a diretora do orfanato, procuraram e encontraram o filho da sua falecida amiga que já tinha completado 10 anos, juntamente com sua “Mãe”, Ana Lúcia.

     Decidiram então mudar-se para o Norte e, por coincidência, para a casa ao lado da Dª Lúcia.

     Com isso, os meus Pais conheceram-se, porque a minha Avó não desistiu.

(Continua)

CC9B