Consumo: o Efeito de “Passadeira Rolante”

Image par Gerd Altmann de Pixabay 

II

   Antes de escutarmos as sugestões que apontam as vias concretas de acesso às Alternativas desafiadoras escondidas no conceito de “Decrescimento”, cada um dos elementos do Grupo pôde deixar também o testemunho  do seu contributo para uma vivência comum mais responsável, mais cuidadora e mais compassiva, para além do horizonte estreito de uma “Cidadania” simplesmente correta.    

   Seguiu-se uma saborosa partilha, colorindo-se as sugestões com histórias de vida, nas quais se vem concretizando um consumo sensato e sóbrio, dentro do contexto real que ainda é o nosso.

    Como exemplo, para a Olga, trata-se de partilhar algo sempre que há uma nova aquisição e de conter o teor da oferta no âmbito do que é necessário: “damos os brinquedos; ao recebermos uma coisa nova, oferecemos uma antiga”; e os próximos “presentes” vão ser um cabaz de “coisas úteis”.

    Na mesma linha de sobriedade respeitadora dos outros e do ambiente, também a Ana insistiu sempre em levar “o carrinho velhinho pelas tournées na Península Ibérica em espetáculos musicais.”

   Além desta preocupação de equilíbrio no orçamento doméstico, reconhecemos também que “a pandemia, os confinamentos e as restrições de circulação nos trouxeram oportunidades de descobrir o que nos é essencial, materialmente.”

   “As pessoas têm dinheiro à ordem como nunca tiveram.  Ter de ficar em casa fez-nos perceber que podemos só comprar aquilo de que verdadeiramente precisamos.”

   Mas a Ana Poças veio recordar-nos que “é preciso levantar questões para além do nível em que pode evoluir um consumo individual consciente”,  pois “há ainda o consumo como produto de um sistema capitalista: que questões estruturais, por detrás, teremos de modificar?”

    A Prof Helena esclareceu-nos sobre o impacto da corrida ilimitada à aquisição de bens não essenciais: “Nas áreas do Bem-Estar, descobre-se que as pessoas mais materialistas são mais infelizes. Adaptamo-nos muito depressa ao que adquirimos de material: faz-nos o efeito de uma passadeira rolante.”

   E não apenas “os objetos sonhados dão um bem-estar transitório”, como ainda “a comparação social é detrimental para o nosso bem estar. O acesso aos bens é muito visível pelas redes sociais: mais um fator limitativo do bem-estar. Ao comparar, fazemos a experiência de andarmos na passadeira rolante.”

   Existe, assim, toda uma aprendizagem de um estilo de vida, afinal mais fiel ao humano, a fazer, e que a Prof Helena caracterizou: 

“Trata-se de preenchermos necessidades reais, não materiais: sentido de Comunidade, Autoestima, Alegria, Amor – uma Sociedade que encontra formas não materiais para saciar estas necessidades reais que identificou.”

“Estamos perante uma nova ideia de Desenvolvimento, há que pensar em outros termos estruturais.”

 Assim, podemos deixar-nos surpreender com o poder  transformador das investigações da  Psicologia Positiva, no sentido de ajudar a discernir os fins últimos que uma Economia humanizada deve servir: 

     “Um estudo a nível mundial hierarquizou a felicidade. Um Tink Tank do Reino Unido criou um índice novo que inclui a pegada ecológica; aí, a Costa Rica passa a ser o país com maior Bem Estar e Felicidade.”

Fim da II Parte

(Apontamentos da sessão Zoom da Cátedra Geral da Unesco para a Paz Global e Sustentável a 28/07 de 2021)