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Ela era ainda muito pequenina, mas tinha quase a certeza que ia ser escritora.
Assim que aprendeu a juntar as letras, desatou a garatujar os cadernos azuis que a irmã mais velha lhe fazia, amarrando folhas brancas, onde abria uns buraquinhos redondos.
As capas eram o que ela mais apreciava: eram de um cartão azul-clarinho, com uma textura rugosa, que ela acariciava por um momento sempre que ia escrever.
Às vezes, as histórias saltavam-lhe da mente com tanta rapidez que mal as conseguia apanhar com a ponta da caneta.
Seguia o rasto esfuziante da sua imaginação com um esforço heróico dos seus dedos pequeninos, agarrando a caneta ao de leve para rabiscar mais rápido.
Em vão: saltitantes, com pequenas gargalhadas atrevidas, as histórias recém concebidas escapavam-se no vazio da sua própria fantasia.
Outras vezes, a menina ficava muito tempo a pensar no que poderia escrever: sentada na mesa do seu quarto, olhava pela janela e perdia-se a contemplar a suavidade da luz que inundava o jardim.
Apreciava o tronco da sua árvore favorita, a mais antiga, cujo nome o avô pronunciava devagarinho, em Latim, quando passeavam de mão dada, ao escurecer, antes da Mãe os chamar para jantar.
Nesses momentos, a Menina que adorava escrever expressava muito pouco em palavras a misteriosa densidade da vida que os seus sentidos abertos captavam.
Com efeito, o acontecimento tão simples de saborear a Natureza viva, ao fim do dia, na companhia carinhosa do Avô, revelava-se à pureza da sua infância como uma nascente de sentido sempre novo.
E a Menina que adorava escrever pressentia, como quem ouve ao longe uma música desconhecida, que um pedacinho da realidade, assim vivida, escondia em si uma beleza infinita.
Então interrogava-se se, um dia, seria capaz de transportar em palavras a carga preciosa da sua descoberta, a maravilha que assim se derramava, tão discretamente, num momento de ternura partilhada.
Com AF7B e CA7A – Partilha de Inspirações – OE