Escrever a Si Próprio

escrever-a-si-propiroImagem: Oficina de Escrita

    Escrever a si próprio, muito tempo depois, quando as expectativas se cumpriram ou tomaram um perfil inesperado que nos transformou.

      Escrever a si próprio, muitos anos passados, quando a curva do último limite está à vista e temos de fazer adivinhar à jovem de outro tempo o que lhe permanece invisível na subida.

    Escrever a si próprio, dirigindo ao que ficou inconsolado uma energia que compensa o fracasso porque já o pressupõe.

     Escrever a si próprio, tomando nos braços a criança que tropeçou à beira-mar, no ímpeto da sua correria alada.

      Dizer-lhe, no canto do vento que sopra do mar, como se funde na alegria de todos os mundos o tão simples mistério de ela existir.

        Escrever a si próprio, acender os portões de luz que abrem para todos os outros. 

Com IM10 – Partilha de Inspirações – OE

Por Uma Ecologia das Emoções

ecologia das emoçõesGentileza de Edicare.com

     Para Bento Espinosa, também conhecido por “O Filósofo da Alegria”,  uma única energia vital repassava todos os estratos da realidade: o ímpeto para ser mais.

     Ao nível humano, esse dinamismo vivo vinha  já a expressar-se como o ato primitivo e fundador da vontade, a que ele chamou “o desejo de persisitir no ser”.

     Este fluir constante, que nos equilibra no viver, poderia precipitar o futuro; bastaria que a nossa imaginação inteligente fosse gizando o chamariz dos projetos que suscitam um mundo novo.

     Teríamos assim uma energia básica, comum a todo o Universo, que seria o sentido escondido da corrente do tempo: só ela permite um desenvolvimento sustentável, não se esgota, é vivificante para quem a utiliza, enfim, é Ecológica por excelência.

     O livro de Ecologia Emocional para Crianças  – Energias e Relações para Crescer de Mercé Conangla e Jaume Soler – é dedicado às  várias modalidades de energia que influenciam o destino do Mundo.

    São comparadas as energias físicas, que surgem no interior do Planeta com as energias emocionais que brotam no coração do ser Humano.

     Algumas, poluentes para a vida natural e facilmente esgotáveis,  desequilibram os ecossistemas de animais e plantas e tornam  insustentável o desenvolvimento dos povos.

    A elas  correspondem, no habitat do convívio humano, o Medo e a Raiva: se não podemos evitá-las no seu arranque espontâneo, podemos aprender a canalizá-las e a transformá-las.

    Outras são superabundantes, amigas do ambiente, inesgotáveis  e limpas. Como a energia do Sol – que oferece 4 mil vezes mais energia anual do que precisamos.

       A elas correspondem o Amor e a Alegria, poderosas emoções criativas, que se renovam continuamente, voltam para o futuro a mente luminosa, e abrem à confiança o acolhimento dos outros.

     Com suas atividades imaginativas, pontuadas de questões para pensar, este livro pode encorajar os atuais Projetos nascentes dos nossos Alunos, que, desde já, promovem a Vida e contagiam a Paz.

Com o 2º Ciclo – Partilha de Inspirações  – OE

Em Viagem

 veleiros no mar

Pixabay License   Image parDenis Azarenko de Pixabay

   Em Viagem…

  Somos nós próprios – o sonho antigo, a intuição profunda, os traços de um rosto interior – tecidos com o mesmo fio que a naveta traz e leva na urdidura das Viagens?

   Que há em nós tão familiar do que é longínquo que lhe pressente o acenar com insistência, sabendo que nos atrai?

  Quem não percorreu as arestas do distante com os dedos adivinhos de um desejo ainda sem nome?

   Quem não palmilhou, com o olhar caminhante, a vastidão do céu imóvel, quando o dia cumprido se resume numa linha ardente?

   Podemos nomear o rumo que traçamos? Como se torna legível a rota que escolhemos?

   Ao nosso lado, o marulhar da vida contra os flancos dos pequenos veleiros dos Amigos…

    Rápidos, sulcamos o azul puro: vamos juntos.

    A toda a nossa volta, o Infinito.

Visita a 6A e 6C – Partilha de Inspirações – OE

Os Pássaros Azuis e a Bola de Fogo

dois ovos azuis no ninho

     Photo by Landon Martin on Unsplash

     Logo ao amanhecer, no início da Primavera, os pequenos ovos estremeciam no seu ninho fofo.

     A Mãe estava deslumbrada e esperava, com impaciência, que as estreitas fendas se alargassem, dando aqui e ali, suaves bicadas, nas cascas sarapintadas.

     Por fim nasceram! E, no preciso instante em que as três cabecinhas azuis se esticaram para fora dos seus ovos quebrados, lá longe,  no horizonte rosado, a maravilha do Sol inundou o horizonte com a sua luz vivíssima.

      A Mãe saudou os seus filhinhos recém-nascidos com um trinado maravilhoso e eles voltaram as cabecinhas penugentas para ela.

    Abriam os bicos pequeninos, a imitá-la, descobrindo, pela primeira vez, que podiam ouvir e criar sons.

      Na sua intuição, ela entendeu que a saudavam com alegria e que estavam espantados com aquele irmão distante, a Bola de Fogo que nascera ao mesmo tempo. 

Com CC8B e MS8B, Partilha de Inspirações – OE

A Menina que Adorava Escrever

menina no jardim que caminha para uma árvore

     Pixabay Pixabay License

    Ela era ainda muito pequenina, mas tinha quase a certeza que ia ser escritora. 

     Assim que aprendeu a juntar as letras, desatou a garatujar os cadernos azuis que a irmã mais velha lhe fazia, amarrando folhas brancas, onde abria uns buraquinhos redondos.

     As capas eram o que ela mais apreciava: eram de um cartão azul-clarinho, com uma textura rugosa, que ela acariciava por um momento sempre que ia escrever.

     Às vezes, as histórias saltavam-lhe da mente com tanta rapidez que mal as conseguia apanhar com a ponta da caneta.

     Seguia o rasto esfuziante da sua imaginação com um esforço heróico dos seus dedos pequeninos, agarrando a caneta ao de leve para rabiscar mais rápido. 

     Em vão: saltitantes, com pequenas gargalhadas atrevidas, as histórias recém concebidas escapavam-se no vazio da sua própria fantasia.

     Outras vezes, a menina ficava muito tempo a pensar no que poderia escrever: sentada na mesa do seu quarto, olhava pela janela e perdia-se a contemplar a suavidade da luz que inundava o jardim.

     Apreciava o tronco da sua árvore favorita, a mais antiga, cujo nome o avô pronunciava devagarinho, em Latim, quando passeavam de mão dada, ao escurecer, antes da Mãe os chamar para jantar.

     Nesses momentos, a Menina que adorava escrever expressava muito pouco em palavras a misteriosa densidade da vida que os seus sentidos abertos captavam.

     Com efeito, o acontecimento tão simples de saborear a Natureza viva, ao fim do dia, na companhia carinhosa do Avô, revelava-se à pureza da sua infância como uma nascente de sentido sempre novo.

     E a Menina que adorava escrever pressentia, como quem ouve ao longe uma música desconhecida, que um pedacinho da realidade, assim vivida, escondia em si uma beleza infinita.

     Então interrogava-se se, um dia, seria capaz de transportar em palavras a carga preciosa da sua descoberta, a maravilha que assim se derramava, tão discretamente, num momento de ternura partilhada.

Com AF7B e CA7A – Partilha de Inspirações – OE