Em 1991, a Prof Maria José Figueiroa Rego partilhou as nossas aulas de Português de 5º ano, continuando as suas sessões de Filosofia para Crianças em que já iniciara os nossos jovens Estudantes ao longo do 1º Ciclo. Aqui publicamos excertos de um animado debate sobre as possibilidades de viver a Liberdade:
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A. L. – Eu vinha a voar para a escola, se tivesse o dom. Não posso, porque não consigo.
Prof Maria José – Mas és livre para voar?
A. L – Se pudesse, era livre.
Prof Maria José – Então, não és livre para voar.
A. L. – Se pudesse, era livre. Não se põe essa opção.
Prof Maria José – Se não se põe essa opção és livre para voar ou não?
T. – Se eu pudesse voar, era livre. Não se põe essa opção.
Prof Maria José – Então não és.
T. – Se pudesse, era. Não voo porque não posso. Mas, por exemplo, eu, um dia, apareço a voar; aí, tenho esse direito.
Prof Maria José – A tua liberdade não tem a ver com a tua possibilidade?
AM – Se eu fosse maluca, subia a uma montanha e atirava-me.
Prof Maria José – Qual é a diferença?
AM – A T disse que não era livre para voar, se não voasse.
T – A Stora perguntou se a liberdade tinha a ver com o que eu posso fazer e eu disse que não.
Prof Maria José – Mesmo que não possas voar, continuas livre?
T – Sim.
AM – Então eu tinha percebido mal. Se eu me atirasse da montanha, eu passava um bocado a voar antes de chegar ao chão.
L – Só se é livre quando se consegue. Se morre, não é livre. Se conseguisse voar, talvez fosse livre de voar. Se não pode, não é livre. Vi um filme de um surdo-mudo…
Prof Maria José – É livre para falar?
L – Sim, diz por gestos.
AF – Quase ninguém é livre. Há sempre qualquer coisa… Por exemplo, queremos chocar com os carros e a polícia não nos deixa.
Prof Maria José – Ninguém é livre?
AF – Há coisas em que somos livres. Por exemplo, em casa, se queremos, podemos fazer um bolo.
Prof Maria José – E uma liberdade total? Não há uma liberdade total?
Excertos de Sessão de Filosofia para Crianças na Aula de Português –
Turma do 5C – 1991