O Lançar de uma Sonda

cadescrita.org

     Podemos ler para compreender o que é, onde estamos todos, o que, nesta caminhada de tempo, vamos sendo. Assim também, podemos escrever para tentar configurar o que compreendemos, para descrever onde nos situamos, para narrar o processo que somos.

    Escrever imita, assim, o próprio movimento da vida, expressa-o e serve-o. Movimento, por vezes imperceptível, onde se vai desenhando a nossa experiência de ser, a qual participa do mesmo dinamismo e pujança inerentes a toda a realidade.

   Não se trata, portanto, de mero exercício académico, desprovido de raízes no húmus do real vivido, sem mordente sobre a nossa relação primordial com a aventura de dar sentido ao existir.

   Escrever é também o lançar de uma sonda para fora da segurança de estar a bordo, na ousadia, em aparência insensata, de interpretar um oceano que não tem fim.

   Como se cada um de nós fosse “uma palavra a dizer”, tarefa de uma vida, que não pode ser delegada nem adiada, mas que só se articula em conjunção com toda a realidade, em relação com todos os outros, no íntimo espaço aberto para o horizonte que tudo supera e onde apenas pode germinar uma comunhão verdadeira.

Razões para Escrever – OE